Estudantes que passaram no IFPB de Catolé do Rocha conseguiram vagas em universidades dos Estados Unidos
Que exemplo

“O estudo te leva longe”. Todos sabemos esta frase, mas duas estudantes que concluíram o Ensino Médio Integrado ao Técnico no campus Catolé do Rocha do IFPB levaram ao pé da letra. As egressas do Instituto Federal da Paraíba conquistaram vagas em universidades norte-americanas, prestigiadas nas suas áreas, e com bolsa integral para custear todas as despesas.
Letícia Bezerra Sousa Diniz e Radymilla Cristiano Camilo cursaram Edificações, de 2019 a 2022. Partilham as mesmas dificuldades de virem de uma família que teve de batalhar para proporcionar o melhor para elas. No IFPB, tiveram acesso a projetos extracurriculares e foram sucesso nas competições de robótica, com mentoria do professor Alexsandro Trindade, atual Diretor de Desenvolvimento de Ensino do campus.
Letícia Diniz está na sexta melhor universidade dos EUA

Em 2024, Letícia conquistou uma bolsa integral na Northwestern University e atualmente cursa Engenharia da Computação nos Estados Unidos.
“Sair da realidade de Catolé do Rocha era algo que sempre imaginei acontecendo, só não sabia que esse sonho poderia me levar tão longe quanto Evanston, Illinois, nos Estados Unidos”, conta Letícia. Ela diz que sempre sonhou em estudar fora, inspirada nos livros e filmes de Harry Potter que marcaram sua infância ao lado dos pais Zilma Francisca de Sousa Diniz e Lavoiziê Bezerra Diniz.
“Ainda lembro claramente dos meus pais dizendo que estudar no exterior era algo distante demais para nossa realidade no sertão paraibano e que eu deveria manter os pés no chão”. Ao deixar a escola Luzia Maia e entrar no IFPB, ela começou a se aproximar do sonho.
“Decidi aproveitar ao máximo as oportunidades oferecidas pelo IFPB”. Ela participou do clube de robótica, de projetos de pesquisa científica e diz que assim conseguiu construir um currículo forte o suficiente para transcender as fronteiras locais.
“No meu último ano no instituto, um amigo me apresentou ao mundo das applications e à possibilidade de estudar em universidades dos Estados Unidos, ampliando meus horizontes para além das universidades públicas brasileiras, que apesar de excelentes, não eram minha única possibilidade”.
A difícil decisão foi tirar um ano entre o ensino médio e a universidade para preparar as candidaturas e concorrer a uma bolsa integral, devido aos altos custos das universidades americanas e à desvalorização do real frente ao dólar.
“Não foi fácil ver meus colegas avançarem para a universidade enquanto eu me dedicava a algo que parecia impossível. Mais desafiador ainda era ouvir comentários desencorajantes sobre estar ‘perdendo tempo’”, relembra Letícia.
Ela contou com o apoio da Fundação Estudar, especializada nestas candidaturas ao exterior. “Enviei candidaturas para 20 universidades e escrevi mais de 72 redações. Todo o esforço valeu a pena quando fui aceita na minha universidade favorita: a Northwestern University, com uma bolsa completa que cobre mensalidade, hospedagem, alimentação e ainda oferece assistência extra para outras despesas”, comemora Letícia.
Ela está concluindo o primeiro ano na universidade e já está se planejando para realizar o sonho de infância no próximo verão: ir até Londres com o suporte financeiro da universidade.
“Sempre serei grata ao IFPB por ter me apresentado à pesquisa científica, permitido apresentar projetos em feiras nacionais e participar de competições de robótica, experiências fundamentais para que eu pudesse alcançar uma vaga na sexta melhor universidade dos Estados Unidos”, declara Letícia.
“O IFPB me ensinou a valorizar cada oportunidade durante minha trajetória acadêmica. Mal posso esperar para explorar todas as experiências que ainda terei por aqui, com o objetivo de me formar como engenheira da computação e contribuir significativamente para o avanço tecnológico do nosso país”.
Radymilla foi aprovada em cinco universidades norte-americanas

Radymilla tem 20 anos e é natural de Belém do Brejo do Cruz, filha de Maria Roseana Cristiano Pereira Camilo, dona de casa que faz bicos em serviços gerais para complementar a renda, e Paulo Camilo da Silva, pedreiro. “Venho de uma família simples e meus pais sempre foram minhas inspirações de força e determinação diárias. Mesmo com pouco acesso a oportunidades educacionais, sempre trabalharam muito”, afirmou a jovem.
Ela conta que o senso de responsabilidade começou a se desenvolver desde muito cedo com a separação dos pais e o nascimento do irmão mais novo. “Passei a ajudar mais dentro de casa, cuidando dos meus irmãos e das tarefas do dia a dia. Essas vivências moldaram muito de quem eu sou hoje, e fortaleceram o meu desejo de construir um futuro melhor para mim e para a minha família”, relembra Radymilla.
Este desejo de uma vida melhor provocou mais interesse e a dedicação aos estudos. “Desde pequena sempre fui curiosa em entender sobre como o mundo funcionava. Principalmente, durante a infância, desenvolvi meu interesse por resolver problemas matemáticos, que me levaram a conquistar três menções honrosas consecutivas na OBMEP – durante o ensino fundamental -, me envolver em projetos práticos na escola e praticar artesanato, despertando, assim, meus interesses nas áreas de exatas e artes”.
Aos 14 anos, foi aprovada no IFPB Catolé e no IFRN Caicó, optando pelo IFPB. “Desde então, minha trajetória tem sido marcada por descobertas, conquistas e muitos aprendizados”. Ela conta que o primeiro ano foi de dificuldades em se adaptar a um novo sistema educacional.
“Consegui encontrar suporte e buscar novos desafios, principalmente, ao fazer parte de um dos primeiros times femininos de robótica do campus, a equipe Tóquio. Ao longo dos quatro anos do Ensino Médio, a robótica me permitiu desenvolver meu interesse por tecnologia, conhecer novos lugares, e contribuir na criação de robôs que foram premiados em competições regionais, nacionais e internacionais, como o 1º Lugar no International Robots Tournament (ITR) e 2º Lugar na Olimpíada Brasileira de Robótica Prática (OBR) no nível Estadual, e Top 10 no Brasil, na etapa Nacional, em 2022”, rememora Radymilla.
Durante a pandemia, enquanto continuava participando da robótica, buscou novas oportunidades de desenvolvimento. “Através da pesquisa científica, co-fundei 2 projetos de tecnologias educacionais e acessíveis, o CodeBox (Proposta de Desenvolvimento de Laboratório para Ensino de Robótica com Arduino) e o BrickBlind (Jogo de montar como Tecnologia Assistiva no Ensino de Desenho Técnico para Deficientes Visuais), buscando entender como novas ferramentas inovadoras podem contribuir para o desenvolvimento igualitário e interativo nas áreas de STEAM (Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática)”.
Radymilla conta que dividia toda esta vivência na pesquisa com as atividades domésticas e a colaboração na criação do irmão mais novo. O período marcou conquistas como o 1º Lugar em Engenharias na Feira Brasileira de Jovens Cientistas (FBJC), em 2022, com o projeto BrickBlind. Segundo ela, o segredo para o sucesso foi: “aprimorar habilidades técnicas, gerenciamento de tempo e resiliência, liderança, e aprofundar os interesses em tecnologia e como eles poderiam estar alinhados com áreas interdisciplinares, como design, para inovar e fazer a diferença”.
Nos últimos anos de ensino médio no IFPB, Radymilla participou de projetos de extensão, como o NUPSS, contribuindo no acesso a técnica gratuita para construções de habitações sociais. Ela conquistou menções honrosas nas olimpíadas Canguru e Sapientia e Medalha de Ouro na Olimpíada Nacional de Ciências, o que a possibilitou receber bolsa de iniciação científica júnior pelo MCTI/CNPq em 2022. A partir daí, também começou a se engajar no mundo de empreendedorismo e inovação através de hackathons online, conquistando o pódio em quatro de oito competições, como o 1º lugar no Hackathon Desafio Tech, da Fundação Estudar, em 2022, com o projeto ReTrash.
“Fazer parte da comunidade do IFPB-CR mudou a direção da minha trajetória acadêmica e pessoal. A partir dos aprendizados e oportunidades, conquistei mais de 30 premiações, criei conexões e vivi experiências que não só moldaram quem sou hoje, como também despertaram e fortaleceram meus interesses nas áreas de Tecnologia e Design”, se emociona Radymilla.
A conquista da vaga e da bolsa integral na Georgia Institute of Technology (Georgia Tech), para cursar Ciência da Computação e Design Industrial veio depois de dois anos isoladas para as tentativas. Mesmo tendo sido aprovada no curso de Engenharia da Computação na UFPB, e em outras universidades, Radymilla começou a fazer um programa preparatório para candidaturas ao estudo no exterior, com bolsa pela Fundação Estudar.
Através do Programa Prep, ela teve o apoio de comunidade de estudantes, mentores especializados, instituições parceiras e o suporte financeiro para cobrir custos com as taxas de provas, apoio psicológico e curso de inglês. “Uma barreira que tive que enfrentar, saindo do nível B1 para C1”, conta. Foram muitas redações, testes de proficiência e aptidão, cartas de recomendação e históricos acadêmicos enviados. Porém, o que mais chamou atenção de Radymilla é que tudo isto provocava uma grande jornada de autoconhecimento.
“Além do processo de application, continuei conciliando minhas responsabilidades em casa, e me dediquei a outras atividades, principalmente no design de experiências digitais e interativas, sendo estudante da iniciativa de economia criativa, Co.Liga, conquistando o 2º Prêmio Co.Cria de Design, e voluntária em desenvolvimento de produtos tech na Frente Tech da Fundação Estudar, desenvolvendo um sistema de gamificação no curso CS50 de Harvard e levando mais 3000 estudantes a aumentarem seu progresso em cerca de 40%”.
Em 2024, ela já tinha sido aprovada com bolsa parcial nas universidades Drexel University e Stetson University, e entrado na lista de espera da Washington University in Saint Louis. Mas, Radymilla sabia que precisava da bolsa integral e então prosseguiu nas tentativas apesar dos momentos de muita frustração e dúvidas.
Há um ano, Radymilla foi selecionada no programa de mentoria, também gratuito, o University Placement, da Latin American Leadership Academy para receber apoio em mais um ano de aplicação. “O ano de 2024 como um todo foi marcado por desafios pessoais que minha família e eu tivemos que enfrentar, que adicionaram dificuldades inesperadas durante o processo, mas com o grande suporte do time e a comunidade inspiradora do University Placement e LALA, que me acolheram de forma extremamente humana, empática e eficaz (também em termos de revisão de textos, preparações, documentação e feedback), obtive o apoio que fez toda a diferença para que eu concluísse as minhas aplicações”, rememora.
Em 2025, ela foi aprovada em duas das melhores universidades públicas do mundo, a University of North Carolina at Chapel Hill e University of Wisconsin-Madison e entrou na lista de espera da University of Notre Dame, Wellesley College e Wake Forest University.
“E, em 28 de março, recebi o resultado de que fui aprovada em Georgia Institute of Technology (Georgia Tech), para cursar Ciência da Computação e Industrial Design – não só uma das melhores instituições de Tecnologia e Engenharia dos EUA e do mundo, mas também uma das minhas universidades dos sonhos”, festeja.
alunas robotica IFPB CR.jpegPara que a ida desse certo, era preciso a bolsa integral que veio por meio da Fundação Behring, que cobre custos como mensalidade, moradia, alimentação, livros, transporte e despesas pessoais. “Foi então que percebi, mais uma vez, que todos os esforços tinham valido a pena. Que aquela menina do Sertão da Paraíba, que adorava explorar as configurações de celulares e computadores, e passava horas jogando jogos de matemática e lógica em um laptop da barbie, pode, sim, alcançar o mundo com apoio, coragem, persistência e sonhos grandes”, destaca Radymilla.
Ela dedicou a conquista a todas as pessoas que a acompanharam nessa jornada “Minha família e amigos, meus professores do IFPB – Alexsandro Trindade, Luiza Lima, Yasmim Peregrino, José de Arimatéia e Nayana Lobo – e às comunidades e equipes que me apoiaram: Fundação Estudar, Prep Program, Better Angels, LALA – University Placement e Fundação Behring. Obrigada por acreditarem em mim quando nem eu entendia o meu potencial e o tamanho dos meus sonhos”.
Ela deve embarcar em agosto. “Na Georgia Tech, quero continuar explorando minhas paixões por interação humano-computador, integração entre software e hardware, robótica e desenvolvimento de tecnologias educacionais e assistivas. Quero me preparar não só para atuar na indústria, mas também para fundar minha própria startup em STEAM e, assim, ajudar outros jovens de baixa renda, do interior e do Nordeste a descobrirem seus potenciais de forma interativa, criativa e acessível”.
Informações com IFPB